As oportunidades de negócios para cooperativistas que atuam na produção de artesanatos foram apresentadas, nesta terça-feira (15), em reunião virtual que contou com a participação de mais de dez cooperativas de nove estados, além de cooperados, analistas e da diretora do Ministério de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (MDIC), Raissa Rossiter. A interlocução com o Executivo corrobora com as estratégias do movimento cooperativista para, entre outras ações de fomento, de oportunizar o acesso ao mercado dos artesãos, bem como para a internacionalização dos produtos dos artesãos brasileiros.
O coordenador de Ramos do Sistema OCB, Hugo Andrade, fez a abertura do encontro e anunciou o interesse da entidade para criar uma câmara técnica do artesanato. Segundo ele, o espaço é essencial para que o segmento avance em pautas institucionais e de representação junto ao ministério em relação às políticas públicas de fomento ao setor. Em seguida ele passou a palavra para o analista-técnico, Alex Macedo, que evidenciou que o espaço será um canal de interlocução permanente. “Em 2022, nossas 28 cooperativas de artesanato e seus mais de 450 artesãos faturaram R$ 7,6 milhões. Reconhecemos nosso potencial, mas precisamos de mais dados e informações. Esse espaço vai nos ajudar a entender de forma mais objetiva a realidade dos negócios para melhor representá-los”, pontuou Macedo.
A coordenadora de negócios da Gerência de Desenvolvimento de Cooperativas (Gedec) da OCB, Pâmella Jerônimo de Lima, apresentou as soluções desenvolvidas pelo Sescoop Nacional com produtos customizados para as cooperativas, respeitando as peculiaridades do movimento. “Temos iniciativas para apoiar a inserção em mercados, ampliar e diversificar as vendas dos produtos por meio de participação em feiras, rodadas de negócios e missões internacionais. Com nosso Programa de Negócios, aplicamos diagnóstico e elaboramos soluções de acordo com a necessidade de cada cooperativa. O programa conta ainda com organização mercadológica, qualificação para exportação e promoção nacional e internacional”, afirmou.
Pâmella relatou aos participantes a experiência com a cooperativa Xambiart, na região Norte, que participa de projeto piloto para impulsionar os negócios. “Temos percebido resultados maravilhosos, que a consultoria, capacitações e participações em eventos têm gerado para a cooperativa. A metodologia feita por imersão participativa auxilia na identificação das dores e oportunidades que estavam ocultas, até então, para os cooperados. Nosso questionário aplicado está baseado nos pilares da sustentabilidade, organização social para o empreendimento, produção, gestão, agregação de valor e verticalização de cadeia e mercado. Em um prazo de 10 a 12 meses já percebemos os resultados”, descreveu.
“A experiência está sendo realmente fantástica, pois estávamos rastejando e, agora, o grupo se organizou, está ativo e aumentou as vendas. É um trabalho completo e tivemos um olhar geral e próspero para o nosso crescimento”, ressaltou a representante da Xambiart, Marivalda Borges.
Ainda de acordo com Pâmella, o Sistema OCB viabilizará a participação de dez coops na Feira Nacional de Artesanato e Cultura (Fenacce 2023), que está em sua 5ª edição e acontece entre 26 de setembro e 1º de outubro, no Centro de Eventos do Ceará. “A última edição reuniu 1,5 mil artesãos de 25 estados e contou com 48 mil visitantes. Além dos negócios, há capacitações, workshops, programação cultural e rodada de negócios internacionais junto à ApexBrasil e Sebrae Nacional. Países como EUA, Emirados Árabes Unidos, Tailândia, Reino Unido, França e Alemanha estarão presentes e com interesse nos produtos”.
Ações do Executivo
A diretora Raissa Rossiter falou sobre as perspectivas do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), fez um apanhado histórico da legislação do setor e apresentou dados, de junho deste ano, do Sistema de Informações e Cadastro do Artesanato Brasileiro (Sicab), que demonstram o tamanho do segmento e a necessidade de otimizar as políticas públicas para os artesãos. “O programa vem evoluindo entre altos e baixos, mas cabe mencionar que o reconhecimento da profissão determinou o crédito específico para a categoria, o acesso às escolas de qualificação técnicas e outras ações nas quais estamos empenhados para aplicar cada vez mais os dispositivos da lei. Temos como público-alvo 203.835 artesãos registrados e a maioria são mulheres (76%). A renda de 81% desses profissionais atinge até três salários mínimos. Outro dado interessante é que temos 2% deles exportando e 14% já realizaram capacitação técnica ou gerencial.
Outro desafio destacado pela diretora é a promoção da categoria com a atualização das políticas públicas, aperfeiçoamento e regulamentação de marcos normativos, inclusão econômica e municipalização de políticas. “Em alguns estados, o artesanato está sob a alçada da Secretaria de Cultura, outros na de Trabalho e outros na de Lazer. E sabemos que o setor é relevante não apenas sob o ponto de vista cultural, mas também econômico e social. Ele gera emprego, renda, desenvolvimento local e, se articulado com outros segmentos como o de turismo, pode ser inserido na economia criativa”, destacou.
Raíssa também salientou a importância da parceria com o Sistema OCB. “Alguns dados precisam ser mais precisos do ponto de vista estatístico para orientar de forma mais consistente nossas ações. A interlocução com o Sistema OCB é fundamental, pois o artesanato é um setor fortemente vinculado a cultura da cooperação e da associação. Queremos criar um fórum com os principais atores para discutirmos e aperfeiçoarmos as políticas. Para se ter uma ideia, até 2022, foram vendidos R$ 23 milhões que beneficiaram 4.553 artesãos em feiras nacionais. Estamos trabalhando por um conjunto de iniciativas que fomentarão o acesso cada vez maior deles a mercados”.
Experiências
O assessor institucional da Ocemg, Geraldo Magela, relatou que o coop mineiro se candidatou junto à Unesco pelo modo de produzir seus queijos artesanais – que embora não esteja contemplado na Lei, é mais uma oportunidade de divulgar produtos feitos pelas mãos dos brasileiros. “Isso para nós é uma riqueza, pois estamos em atividade há 300 anos. Temos potencial não só no queijo, mas em vários produtos. Nosso acordo de cooperação com a Secretaria de Estado de Educação tem ajudado a desenvolver o artesanato dentro da economia colaborativa”, contou.
O diretor presidente Cooperativa Artesa, de Cabeceiras (PB), Ângelo Márcio, ressaltou a importância dos financiamentos e da carteira profissional de artesão para facilitar o acesso ao crédito. “Nosso artesanato está há 20 anos no mercado e vendemos dentro e fora do país. Queremos vender mais, então, a questão dos financiamentos podem nos ajudar muito”, explicou.
A representante da Cooperativa dos Artesãos do Estado de Goiás (Cartago), Maria do Cerrado, parabenizou as ações e disse estar otimista. “Estou no artesanato há 25 anos e vi várias cooperativas e associações nascerem e morrerem sem ter acesso a nenhum desses estímulos. Estamos esperançosos de que tudo está mudando. Espero que o programa abra espaço maior para nossas vendas e o marketplace vai nos ajudar bastante também”.