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SABER COOPERAR
29/05/2025
A nova cara do cooperativismo
Cledir Magri não para. Um dia está na estrada. "Ligo quando chegar!", diz. O retorno demora dias. Outra tentativa de contato e agora ele avisa que está em um hotel em Brasília, para uma série de reuniões de trabalho. Tenta marcar um encontro presencial em um dos cafés da capital. "Não vou conseguir estar lá", lamenta no dia seguinte. A entrevista acaba sendo por meio da tela do computador. São 7h da manhã e o cooperativista tem a agenda repleta de compromissos. "Terminamos a conversa em outro dia", deixa previamente combinado. Uma semana depois, ele já se encontra no aeroporto de São Paulo rumo à Europa. "Mande as perguntas que respondo por áudio", pede pouco antes do embarque. E lá vai ele, mais uma vez. O presidente do Sistema Cresol, uma das principais cooperativas financeiras do Brasil, viaja para fazer palestras, estar em encontros pelo mundo para troca de conhecimento e apresentar a experiência de sucesso que comanda. Apesar do tempo apertado, Cledir fala pausado. Uma calma peculiar na hora de pronunciar palavras bem escolhidas. Tom de quem tem talento para fazer sermões. Direto e certeiro. Faz parte de sua habilidade falar com o público, tocar as pessoas pelos verbos, adjetivos e substantivos sabiamente selecionados. Um dom que o levou a ser seminarista. Ou o contrário. Talvez o predicado tenha sido resultado dos anos de preparo para o sacerdócio. Cledir quase foi padre, mas entendeu que era necessário ter uma outra vivência. "Tomei uma decisão difícil, mas muito madura, de sair do seminário", conta. Foi quando começou a traçar outros caminhos, entre eles o que o levou a se destacar como líder cooperativista. Antes disso, estudou filosofia e teologia. Fez mestrado na área de educação, doutorado em filosofia da economia e especializações que exigiriam um parágrafo só para citá-las. Modesto, diz que talvez não tenha sido o mais inteligente da turma, mas sempre esteve entre os mais esforçados. Dedicação que fez com que fosse convidado a trabalhar, há quase 18 anos, com um professor universitário, presidente de uma organização que prestava serviço para a Cresol. Uma das missões do ex-seminarista era ajudar o docente a conduzir alguns projetos junto à cooperativa parceira. Assim foi até que, no dia de uma palestra para os funcionários da Cresol, o coordenador responsável pela tarefa adoeceu. O tema era algo sobre desenvolvimento regional a partir da participação da agricultura familiar, e o novo palestrante escolhido foi Cledir, justamente por sua desenvoltura ao falar e pela afinidade que demonstrava com o tema. Afeito a desafios, Cledir teve só uma noite para preparar o material, mas não se intimidou. Como conhecia bem o assunto e tinha prática de transformar calhamaços de teorias e dados de pesquisa em apresentações, elaborou uma palestra que transformaria a sua vida. No seminário, passávamos meses estudando um evangelho para fazermos um sermão de seis ou sete minutos. Éramos treinados para termos a capacidade de ser assertivos e compartilharmos as informações mais relevantes." Ainda que nervoso no papel de palestrante, Cledir conduziu a apresentação com desenvoltura. "Na época, meus amigos eram mais conservadores; então, levei outra dinâmica do trabalho em grupo, mais participativa, e aquela região ficou extremamente encantada", lembra. Tamanha maestria chamou atenção dos dirigentes da Cresol, que solicitaram sua participação em mais projetos e em novas palestras. Finalmente, em 2007, Cledir Magri foi convidado a fazer parte da cooperativa como auxiliar administrativo. Anos depois, ele passou a ocupar a cadeira mais importante da cooperativa. Por isso, digo: na vida, as oportunidades surgem e precisamos estar sempre preparados para aproveitá-las. E isso não é um jargão ou uma manifestação tão somente formal", garante. De fato, Cledir agarrou a chance que teve, como o menino esforçado que sempre foi teria feito. Ele defende a tese de que o esforço é resultado da necessidade. "O esforçado é aquele que trabalha por um prato de comida", define. LIDA NO CAMPO Filho de "pequeníssimos" agricultores do também pequeno município no interior do Rio Grande do Sul, Frederico Westphalen, Cledir é o sexto de oito irmãos. A dura lida de seus pais nunca deixou que faltasse o que comer e foi lição farta para que os filhos "aprendessem a valorizar o pouco que tínham", lembra. Essa visão de mundo sempre o ajudou a se dedicar intensamente ao trabalho. Começou como faz tudo, uma "espécie de office boy" na cooperativa; aos poucos, foi conquistando espaços maiores. Um crescimento proporcional à sua dedicação. Logo, já dava suporte e apoio na execução de projetos, na formação, na capacitação e no treinamento das equipes. Em 2009, foi para Chapecó, no noroeste do Rio Grande do Sul, fazer parte da equipe de uma das centrais. Em 2012, dedicava-se exclusivamente à assessoria da diretoria, do ponto de vista mais estratégico, e tinha papel importante na elaboração de planejamentos. Até que, em 2016, aos 36 anos, foi convidado a assumir a presidência do sistema. Aliás, ele é o mais jovem presidente da história da Cresol — diga-se de passagem. Cargo que ocupa até hoje. ESSÊNCIA COOPERATIVISTA Quando não está no trabalho, Cledir gosta da calmaria que lhe traz a leitura. Estabeleceu consigo mesmo um propósito: ler dois livros por mês. E tem mantido a meta. Aos 41 anos, é casado e sem filhos. A rotina de descanso inclui ir à igreja e fazer exercícios físicos. Além disso, mantém o forte vínculo com a terra e se dedica às atividades de agricultura na propriedade da qual é dono, com os irmãos, na cidade onde nasceu e cresceu. A afinidade com a atividade cooperativista veio da infância. O pai era sócio da cooperativa. A essência do cooperativismo, carrega na alma. Cledir acredita que a criação deste modelo de negócios nasceu da solução encontrada coletivamente para os problemas individuais. Ele menciona a Inglaterra de 1844, onde as pessoas não conseguiam comprar o básico para sobreviver. Até que, para driblar a fome, um grupo de 28 trabalhadores da cidade de Rochdale-Manchester se uniu para montar seu próprio armazém. Nascia ali a primeira cooperativa do mundo. Com uma moeda, aquelas pessoas não conseguiriam se alimentar, mas, se juntassem todas as moedas que tinham, poderiam comprar comida para todos. Por isso, podemos dizer que o cooperativismo é filho da necessidade e nasce em ambientes de grandes adversidades. É uma visão disruptiva, de romper o ordinário e pensar coletivamente", afirma. "Esse é o pilar de sustentação do cooperativismo: soluções coletivas para os problemas individuais. É um sistema feito de pessoas, para pessoas". Unir esforços, agir em conjunto e pensar no bem comum é o que Cledir acredita como líder, como gestor e como ser humano. Defende o pensamento focado no bem de todos e a prática como exemplo para o próximo — lição que ele, aliás, aprendeu no seminário e levou para a vida. "O padre sempre nos ensinava algo que irá valer até o dia em que minha memória estiver ativa. Ele nos dizia o seguinte: 'jamais, nunca, em hipótese alguma, lá no sermão da missa, fale de algo que você não vai conseguir fazer fora da igreja, porque as pessoas vão te cobrar'." SISTEMA RENOVADO Foi também a união coletiva em uma adversidade que deu origem ao Sistema Cresol. O ano era 1995 quando 27 "pequeníssimos agricultores com baixa escolaridade da região sudoeste do Paraná", como define o atual presidente, se propuseram a criar uma organização de crédito. Cada um deles poderia ter ido a um banco privado e tentado solucionar individualmente suas dificuldades, mas eles preferiram unir esforços e investir em uma "visão disruptiva e empreendedora da mais alta qualidade: o cooperativismo", acrescenta. De lá para cá, são 28 anos de um sistema cooperativo que, atualmente, reúne mais de 800 mil sócios e 740 agências espalhadas por 18 estados brasileiros. Nasceu com a vocação de atender o mercado agro, mas ampliou a clientela. Hoje, 70% dos cooperados estão ligados à produção de grãos, proteínas, hortaliças e fruticultura, por exemplo. Os outros 30% estão vinculados ao segmento urbano. Cledir faz parte dessa história há 18 anos. Por ser uma jovem liderança, imprimiu inovação e modernidade à sua gestão. Foi o único na história da Cresol a ser reeleito, e segue propondo novidades para o Sistema. Essa nova fase da Cresol representa uma ruptura, não dos valores da cooperativa, mas uma ruptura do ponto de vista da estrutura e organização do sistema. Essas mudanças permitiram que a gente pudesse, de fato, participar do mercado em condições diferentes", conta. Cledir não nega que, no começo, suas ideias esbarravam no perfil um pouco mais conservador de algumas lideranças cooperativistas. Aos poucos — pelo resultado de um trabalho que propunha o reposicionamento da marca Cresol no cenário nacional — conquistou a confiança também dessas lideranças. Entre as conquistas da gestão de Cledir, destacam-se as novas estratégias de marketing e de comunicação, a modernização do leiaute da logomarca, das fachadas e dos modelos das agências, que agora têm um visual mais clean, transmitindo mais leveza e confiabilidade. A mudança fez a Cresol se destacar ainda mais no mercado — mais um sinal de que o presidente de "cabeça diferente" estava pensando direitinho. Sob seu comando, gestores e demais funcionários passaram por processos de capacitação e de treinamento; investiu-se em tecnologia; em planejamento estratégico; ampliou-se a oferta de serviços, produtos e soluções financeiras oferecidas aos cooperados. Cledir trouxe uma gestão conduzida, como ele próprio afirma, "por uma mente mais leve e sem grandes vícios". Por isso, abriu o espaço de fala e de poder, garantindo a participação de um grupo maior de pessoas nas decisões, desmontando modelos antigos de centralização de poder. Outra conquista de Cledir foi a criação de projetos voltados para os jovens. Um deles é o Juventude Conectada, em que jovens de todo o Brasil passam 14 meses envolvidos em atividades e em treinamentos para discutir e praticar temas como empreendedorismo, cooperativismo, profissões do futuro e projetos de vida. Também nomeou um Comitê Estratégico Jovem para debater a participação deles no sistema cooperativista. Quando a gente pensa na entrada maior dos jovens nas cooperativas, como associados, e, em especial, no espaço de tomada de decisões, há um desafio a ser superado: entender que existem milhões de jovens que estão, sim, preparados, e têm condições de exercer posições de destaque dentro das cooperativas. Basta dar a eles uma oportunidade. Aí, entra um elemento chamado política de sucessão. Se eu nunca abrir espaço, é pouco provável ter novas lideranças se destacando", defende. A liderança feminina foi outra bandeira levantada pelo presidente da Cresol. Ele incentivou a participação delas nos conselhos das cooperativas e deu oportunidade para que a caneta estivesse na mão delas na hora de assinar as últimas decisões. Era a proposta de transformação em um cenário que ele considerava extremamente masculino. Ele próprio pode ser visto como uma "minoria" de pouca idade dentro do cooperativismo. Começou como faz tudo, recém-saído do seminário, com pouco mais de 20 anos, e, quando presidente, trouxe renovação e mudança de conceitos. No começo, alguns tinham a ideia de que o jovem chega e joga fora tudo o que foi feito para começar algo novo. Eu nunca fiz isso. Entendo que a gente precisa valorizar sobremaneira a nossa história, e que, quanto mais você faz isso, mais elementos de decisão você tem para pensar o futuro", afirma. A essência da ideia proposta por aqueles 27 agricultores que criaram a Cresol, há pouco mais de duas décadas, ainda é mantida viva e norteia os caminhos da cooperativa comandada por ele. "A organização que esquece a sua história perde a sua referência e pode ser qualquer coisa, menos aquilo para que ela foi pensada e concebida", reconhece Cledir. "Com o passar do tempo, o criador e a criatura não se reconhecem mais. É aí que entra o papel dos líderes." E Magri, sem dúvidas, é uma grande liderança, antenada com o papel estratégico da comunicação. Esta matéria foi escrita por Flávia Duarte e está publicada na Edição 42 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
SABER COOPERAR
06/01/2025
Cooperativa mirim do Marajó transforma realidade de crianças ribeirinhas
A 16 horas de barco de Belém (PA), a comunidade Santo Ezequiel Moreno, no Arquipélago do Marajó, reúne cerca de 200 ribeirinhos que têm na floresta e nas águas sua fonte de trabalho e renda. Assim como em outros territórios amazônicos, as crianças e adolescentes da comunidade precisavam de mais espaços de lazer, cultura e educação. Em 2024, a criação da Cooperativa Mirim Marajoara começou a mudar essa realidade.
Desenvolvido pelo Sicoob Cooesa em parceria com o Sistema OCB/PA, o Instituto Sicoob e a Coopiaçá, uma cooperativa de produtores de açaí da comunidade, o projeto beneficia diretamente 68 filhos e filhas de cooperados extrativistas, com impactos para toda a comunidade. A iniciativa ganhou reconhecimento nacional com o primeiro lugar no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2024 na categoria Cultura Cooperativista.
De acordo com a diretora financeira do Sicoob Cooesa, Andrea Almeida, as crianças e adolescentes da comunidade sempre estiveram envolvidos em projetos das cooperativas que atuam no local, mas não tinham um espaço exclusivo em que pudessem conhecer os valores e a cultura cooperativistas.
"Desenvolver o sentimento de cooperativismo entre essas crianças e adolescentes será algo ímpar na educação e na vida delas. A cooperativa mirim tem a preocupação de formar, capacitar e estimular a sucessão cooperativista, considerando as atividades do extrativismo e a necessidade de promover a permanência das crianças e adolescentes na escola, o preparo para a inclusão no mundo do trabalho, de forma decente, dentro de suas realidades culturais, mas com proteção social, protagonismo, cooperação, cidadania e autonomia, afirma.
Para a implantação da Cooperativa Mirim Marajoara, quatro professores e 68 crianças e jovens receberam capacitação sobre o funcionamento de uma coop, princípios e valores cooperativistas, importância da formação de novos líderes cooperativistas para sucessão, entre outros temas.
Além disso, as cooperativas do projeto construíram uma brinquedoteca completa e um espaço de convivência para os encontros dos cooperados mirins.
“Com a cooperativa formada por elas, as crianças já vão entender o processo do cooperativismo dentro da comunidade, vivenciando na prática, na sala de aula e em pequenas ações, a importância do cooperativismo e das cooperativas para o desenvolvimento das comunidades do Marajó”, destaca o presidente da Coopiaçá, Teofro Lacerda Gomes.
Cooperada da Coopiaçá e mãe de participantes do projeto, Sonia do Socorro espera que o projeto abra novas oportunidades de educação e trabalho para os filhos.“Para nós, da cooperativa e da comunidade, é muito importante que os nossos filhos participem e conheçam o cooperativismo para, futuramente, nos ajudarem a tocar a cooperativa sem precisar sair da escola ou da comunidade”, planeja.
Exemplo de transformação
Mais do que uma iniciativa local, a Cooperativa Mirim Marajoara Santo Ezequiel Moreno demonstra o potencial do cooperativismo como ferramenta de transformação social de comunidades. Além de formar jovens conscientes, o projeto reforça os laços comunitários e fortalece o compromisso com a educação de qualidade, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Em plena Amazônia, a cooperativa mirim também tem como foco fortalecer entre as crianças e jovens da comunidade o cuidado com o meio ambiente como estratégia para melhoria da qualidade de vida das populações ribeirinhas do Marajó.
Depois dos bons resultados em Santo Ezequiel Moreno, a meta é implantar cooperativas mirins em outros territórios amazônicos e comunidades tradicionais.
O Programa Cooperativa Mirim é um projeto do Instituto Sicoob voltado para crianças e jovens de 8 a 17 anos para promover a formação de cooperativas em escolas e instituições, com base nos princípios do cooperativismo. A metodologia é interdisciplinar, focada na educação para o desenvolvimento de competências sociais e coletivas.

SABER COOPERAR
12/12/2024
Brasileiro presidente da ACI-Américas diz que cooperativas podem reduzir desigualdades no continente
Um cooperativista brasileiro lidera a representação regional da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) nas Américas e tem a missão de fortalecer o cooperativismo no continente no momento em que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece e valoriza o segmento como ferramenta para construção de um mundo melhor.
Ao longo de mais de 30 anos dedicados ao cooperativismo, José Alves de Souza Neto conheceu de perto o potencial de transformação das cooperativas e acredita que elas são um modelo de negócios capaz de promover a equidade, autonomia e justiça social em uma região com tantas desigualdades.
Com décadas de experiência no comando de uma das maiores centrais de cooperativas de saúde do país, a Uniodonto do Brasil, Dr. José Alves, como é conhecido, afirma estar pronto para conduzir a ACI-Américas no Ano Internacional das Cooperativas e aproveitar a oportunidade de 2025 para construir um legado cooperativista para as novas gerações.
“É fundamental aproveitarmos esse momento não apenas para realizar ações pontuais ao longo de 2025, mas para desencadear processos e projetos que tenham continuidade e impacto nos anos seguintes”, disse Alves em entrevista concedida ao Sistema OCB após participar, em Nova Delhi, na Índia, da Conferência Global da ACI. Confira a entrevista completa:
Sistema OCB: Como o senhor recebeu o desafio de liderar a ACI-Américas em um momento tão importante para o cooperativismo, às vésperas do Ano Internacional das Cooperativas?
Dr. José Alves: Recebi a missão de liderar a ACI-Américas com profundo senso de responsabilidade e entusiasmo. Estar à frente de uma organização tão representativa neste momento histórico é uma oportunidade única de potencializar o impacto do cooperativismo nas Américas e no mundo. O reconhecimento da ONU ressalta a relevância do nosso movimento para o desenvolvimento econômico e social, e estamos comprometidos em aproveitar essa oportunidade para fortalecer e promover iniciativas que evidenciem nosso impacto positivo nas comunidades.
Como líder da ACI-Américas, qual a expectativa do senhor para o Ano Internacional das Cooperativas? Como o segmento pode aproveitar a visibilidade desse reconhecimento global?
O Ano Internacional das Cooperativas é uma oportunidade única para aumentar a visibilidade do movimento em todo o mundo. Pretendemos destacar como as cooperativas constroem um mundo melhor, promovendo eventos, campanhas de conscientização e fortalecendo parcerias com governos e organizações internacionais.
No entanto, é fundamental que aproveitemos esse momento não apenas para realizar ações pontuais ao longo de 2025, mas para desencadear processos e projetos que tenham continuidade e impacto nos anos seguintes. Nosso objetivo é criar movimentos que fortaleçam o cooperativismo de forma duradoura, consolidando práticas, iniciativas e parcerias que permaneçam e continuem gerando benefícios para as comunidades e para a sociedade global.
Qual o papel do cooperativismo nas Américas, tendo em vista os indicadores econômicos e sociais do continente, e também a diversidade de realidades entre os países?
O cooperativismo nas Américas desempenha um papel crucial na promoção da inclusão social, geração de empregos e desenvolvimento sustentável. Embora rico em recursos e culturas, o continente apresenta profundas desigualdades sociais e de direitos, que demandam soluções inovadoras e inclusivas. Nesse contexto, as cooperativas se destacam por oferecer modelos que promovem equidade, autonomia e justiça social.
Além disso, é fundamental que a ACI-Américas se aproxime de organismos internacionais que possam potencializar nossas ações, reconhecendo nas cooperativas um parceiro estratégico que comprovadamente promove a distribuição de renda, justiça e inclusão social. Essa articulação não apenas amplia o impacto das iniciativas cooperativistas, mas também fortalece o movimento como uma força transformadora para enfrentar os desafios sociais e econômicos do continente. Nossa missão é fortalecer essas iniciativas por meio da intercooperação e do compartilhamento de boas práticas, contribuindo para a construção de sociedades mais justas e igualitárias.
Quais os principais desafios para o cooperativismo nas Américas e como a ACI pode apoiar entidades e cooperativas para ampliar o conhecimento sobre o coop e aumentar a adesão ao modelo de negócios cooperativista?
Os principais desafios para o cooperativismo nas Américas incluem o fortalecimento do alinhamento legal entre os países, a diversificação e modernização dos modelos de negócios cooperativos e a disseminação de boas práticas para ampliar a adoção do modelo cooperativista. A ACI-Américas atua como facilitadora, promovendo o diálogo e a intercooperação entre as cooperativas do continente.
Um aspecto fundamental é aproveitar os modelos de sucesso como exemplos para o desenvolvimento de outras cooperativas. Existem países com mais experiência em determinados ramos do cooperativismo, como o agropecuário, financeiro ou de saúde, que podem servir de referência para outros países menos desenvolvidos nesses setores. Vale destacar que o alinhamento legal entre os países é crucial para reduzir barreiras burocráticas, facilitar a intercooperação e criar um ambiente favorável para o crescimento do cooperativismo.
Quais são as prioridades e perspectivas de sua gestão à frente da ACI-Américas?
Minha gestão à frente da ACI-Américas tem como prioridade o fortalecimento institucional do movimento cooperativista, criando uma base sólida para que as cooperativas possam se desenvolver e prosperar. Isso inclui fomentar a intercooperação entre cooperativas de diferentes países, harmonizar marcos legais e promover uma governança mais eficiente e inclusiva.
O fortalecimento institucional passa também por assegurar que as cooperativas sejam reconhecidas como atores-chave nos debates econômicos e sociais, tanto no nível local quanto no internacional. Precisamos ampliar nossa capacidade de articulação com governos, organismos internacionais e outros parceiros estratégicos, destacando o papel das cooperativas como motores de desenvolvimento sustentável e inclusão social. Outro ponto essencial é apoiar as cooperativas na adoção de modelos de negócios inovadores e sustentáveis, garantindo que possam enfrentar os desafios do futuro com competitividade e resiliência.
Que mensagem o senhor gostaria de transmitir aos cooperativistas do Brasil e do continente?
Aos cooperativistas do Brasil e das Américas, reforço que o cooperativismo é mais do que um modelo de negócios – é um movimento de transformação social. Unidos pelos nossos valores e princípios, temos a força necessária para construir um futuro mais justo, sustentável e inclusivo. Juntos, podemos superar os desafios e aproveitar as oportunidades que se apresentam, deixando um legado de impacto positivo para as próximas gerações.
Agenda da ACI-Américas para o Ano Internacional das Cooperativas
A ACI-Américas estruturou uma agenda estratégica de eventos para 2025, com foco em quatro áreas temáticas de grande relevância para o desenvolvimento sustentável e a promoção do modelo cooperativista:
Produtividade e Desenvolvimento Local e Territorial
Data: 12 e 13 de maio de 2025
Local: Chile
Economia do Cuidado
Data: 8 e 9 de julho
Local: Panamá
Finanças Cooperativas para o Desenvolvimento Sustentável
Data: 27 e 28 de agosto
Local: México
Educação e Cooperativismo
Data: 9 e 10 de outubro
Local: Paraguai

SABER COOPERAR
05/12/2024
Cooperativa refloresta área de Mata Atlântica com apoio de cooperados
Já pensou em adotar uma árvore? Com essa proposta, o Sicoob Coopemata, de Minas Gerais, mobilizou seus cooperados e conseguiu recompor quase 9 mil metros quadrados de Mata Atlântica. De árvore em árvore, a iniciativa “Transformação Sustentável: Neutralização de CO² e Reflorestamento para um Futuro Verde” recuperou uma área degradada de vegetação nativa com a força da cooperação e venceu o Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2024 na categoria Desenvolvimento Ambiental.
Tudo começou com uma ideia que parecia simples: plantar algumas árvores para compensar o uso de papel nos trâmites do dia a dia da cooperativa, como uma devolução simbólica à natureza das que haviam sido transformadas em celulose. O que os colaboradores da cooperativa não imaginavam é que a missão ganharia uma proporção muito maior e resultaria na restauração florestal de uma grande área de Mata Atlântica em Juiz de Fora, no sudeste de Minas.
Historicamente formado pelos ciclos do café, pecuária e indústria, o município mantém apenas cerca de 12% da floresta original de Mata Atlântica que cobria seu território. Para proteger o que resta de vegetação e recompor as zonas degradadas, algumas áreas de conservação formam um cinturão verde ao redor da cidade. Uma delas é a Reserva Santuário, um oásis de 920 mil metros quadrados (m²) utilizados para pesquisa, ensino e recepção de animais silvestres resgatados.
Uma parceria firmada entre o Sicoob Coopemata e a Associação dos Amigos (Aban)Associação dos Amigos (Aban), responsável pela reserva ecológica, juntou a vontade de plantar com uma floresta inteira em processo de recuperação. Para cumprir a tarefa, a cooperativa sabia que ia precisar do apoio dos cooperados, e lançou a campanha Adote uma Árvore, em que os interessados contribuíam com R$ 195, aportados em suas contas capitais, para levar o projeto adiante.
Com o apoio dos associados, a cooperativa investiu R$ 18 mil na realização de seu inventário de gases de efeito estufa (para calcular as emissões da cooperativa) e R$ 133,6 mil no plantio e manutenção das árvores.
De muda em muda, a campanha resultou em mais de 2,2 mil árvores, contribuindo para a recuperação do solo e da vegetação de 8,9 mil m² de áreas degradadas inseridas na Reserva Santuário, e a neutralização do equivalente a 43 toneladas de gás carbônico (CO²), gás de efeito estufa que agrava as mudanças climáticas.
Pai adotivo de algumas árvores do projeto, o voluntário da Aban e analista do Centro Cooperativo Sicoob, Luiz Edmundo Rosa Júnior, participou da construção e execução da campanha e destaca a importância de iniciativas de desenvolvimento socioambiental como essa. “É muito coerente com os princípios cooperativistas. Envolver cooperados, comunidades e a parceria com o terceiro setor é exemplo prático de cooperação a favor de uma economia sustentável.”
Resultados estratégicos
As ações não apenas reforçaram o compromisso do Sicoob Coopemata com a sustentabilidade, mas também contribuíram diretamente para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 - Combater a Mudança do Clima e seus Impactos, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Além disso, o projeto demonstrou como práticas sustentáveis podem gerar valor econômico e social. O case exemplifica, ainda, como a inovação e a colaboração podem criar um impacto positivo duradouro, fortalecendo a cooperação e promovendo um ambiente mais saudável e sustentável para todos.
Além do plantio de árvores, em outra estratégia de redução de emissões de gases de efeito estufa, a cooperativa instalou uma usina fotovoltaica composta por 70 painéis solares em sua sede administrativa, melhorando a eficiência energética e reduzindo os custos operacionais.
A superintendente de Gestão Estratégica do Sicoob Coopemata, Vanessa Lacerda Alves Fajardo, destaca o orgulho de ter colaboradores voluntários engajados em fazer a diferença para a preservação ambiental e combate à crise climática. “A neutralização de CO² é uma preocupação de todos, por isso o Adote uma Árvore deu tão certo, porque é um pouco de cada um, que se transforma em muito e pode melhorar o mundo.”
Outro ganho do projeto vencedor do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2024 foi o fortalecimento da imagem institucional e ampliação do engajamento de cooperados e empregados do Sicoob Coopemata na agenda de sustentabilidade. “Assim que o projeto foi iniciado, decidi adotar uma árvore para ajudar na neutralização do CO². Tive a oportunidade de participar pessoalmente do plantio, o que fortaleceu ainda mais meu sentimento de pertencimento a essa cooperativa. À medida que fui conhecendo os projetos, princípios e valores, passei a considerá-la minha principal instituição”, afirma Nelci Cardoso Mendonça, cooperada há mais de quatro anos.
O diretor da Aban e voluntário da Reserva Santuário, Renato Lopes, destaca a parceria com a cooperativa como um marco para a cooperação em prol do meio ambiente, que pode inspirar projetos sustentáveis em outras regiões. “Fazer parte do processo de recomposição de biomas com o Sicoob Coopemata é uma realização pessoal. Após 10 anos na Amazônia, onde vi a beleza e a destruição causadas pelo atual sistema de desenvolvimento, a parceria nos permite restaurar florestas usando a agricultura sintrópica, que imita a natureza e ainda gera alimentos para famílias vulneráveis. Somos gratos pelas oportunidades que essas parcerias proporcionam”, afirmou.
Saiba mais sobre os vencedores do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2024.
Vídeos destaques
Representação política e institucional
O trabalho de representação política e institucional do Sistema OCB estabelece um diálogo estratégico e constante com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, para defender os interesses do movimento cooperativista e promover um ambiente favorável ao desenvolvimento de políticas públicas que valorizem o cooperativismo brasileiro.O que é a intercooperação
A intercooperação abre portas para novos negócios e ajuda a ampliar a participação de mercado e os resultados das cooperativas envolvidas. Assista ao vídeo e veja como a união entre cooperativas pode potencializar os resultados dos negócios cooperativos.
O que é a Cooperativismo
O cooperativismo é um movimento econômico e social baseado na cooperação entre pessoas para alcançar objetivos comuns. Em vez de buscar lucro individual, as cooperativas são formadas por membros que trabalham juntos para atender às suas necessidades e melhorar a qualidade de vida coletiva.
🔷 Principais características do cooperativismo: ✅ Propriedade conjunta e democrática: os membros são donos e têm voz igual nas decisões. ✅ Participação ativa: cada membro participa das atividades e decisões, promovendo a igualdade. ✅ Distribuição justa: os resultados financeiros (sobras) são distribuídos de acordo com a participação de cada um. ✅ Compromisso social: as cooperativas buscam melhorar a comunidade onde estão inseridas.
🔷 Exemplos de cooperativas:
Cooperativas de crédito (ex.: Sicredi, Sicoob).
Cooperativas agrícolas (ex.: Coamo, Capal).
Cooperativas de saúde, de trabalho, de transporte, de consumo, entre outras.
⚡ O cooperativismo é, portanto, um modelo de negócios e de vida que une pessoas para crescerem juntas. Se quiser, posso te contar mais sobre a história ou os princípios do cooperativismo. 🚀✨
Cooperativismo e ESG
Qual é a relação entre cooperativas e bioeconomia?
A onda verde chegou com força ao setor econômico. A chamada bioeconomia está em alta, mas você saber o que ela propõe, na prática?
Infográficos

Cultura cooperativista pelo mundo
As cooperativas foram declaradas Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, graças à sua contribuição essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Com presença em mais de 150 países, o modelo de negócio se destaca por oferecer soluções inovadoras para desafios sociais, promoção de empregos e cuidados com o meio ambiente. Descubra exemplos inspiradores de como o cooperativismo impacta positivamente o mundo.

O que é intercooperação
A intercooperação é um dos pilares essenciais do cooperativismo, promovendo o fortalecimento das cooperativas por meio de parcerias estratégicas. Ao trabalhar em conjunto, as cooperativas criam um ambiente mais competitivo, ampliando oportunidades de negócio, reduzindo custos e oferecendo mais valor aos seus membros. Essa união entre diferentes cooperativas, tanto em nível local quanto internacional, potencializa o movimento cooperativista e solidifica sua presença no mercado.

O que é cooperativismo?
Nem sempre é fácil explicar o que é o cooperativismo, mas estamos aqui para te ajudar a entender! Este infográfico foi criado para responder as principais perguntas sobre o movimento cooperativista de forma clara e simples. Com 7 perguntas e respostas, você vai aprender o que é o cooperativismo, seu propósito, como funciona e quem pode participar. Vamos juntos explorar o poder da cooperação e como ela impacta a vida de pessoas e comunidades. Clique nos tópicos abaixo e descubra mais!

A relação entre Cooperativas e Bioeconomia
Qual é a relação entre cooperativas e bioeconomia?
A onda verde chegou com força ao setor econômico. A chamada bioeconomia está em alta, mas você saber o que ela propõe, na prática?