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Força da natureza

É da floresta que ela tira o sustento, ajuda a curar doenças e constrói sonhos. Ana Paula Ferreira, 26 anos, chegou na Cooperativa dos Extrativistas da Floresta Nacional de Carajás (COEX Carajás) como estagiária, aos 18 anos. Há sete, preside a cooperativa que fica em Paraupebas (PA) e é responsável por extrair da floresta folhas utilizadas na produção de remédios para o tratamento do câncer de esôfago e do glaucoma. Única mulher entre os 37 membros da associação, ela conta que o cooperativismo e o extrativismo transformaram a sua vida.

A cooperativa fez parte de muitas ‘primeiras vezes’ na minha vida. Foi lá que assinei minha carteira [de trabalho] pela primeira vez; foi lá que dirigi um carro pela primeira vez; foi lá que eu viajei de avião pela primeira vez. Foi através da cooperativa que eu participei de grandes eventos, cursos. Eu tive muitas oportunidades e aprendi coisas que universidade nenhuma poderia me ensinar”, diz Ana Paula.

Ela e os irmãos começaram a trabalhar muito cedo, vendendo alimentos na rua para ajudar financeiramente em casa. A mãe, que criou os filhos sozinha, sacrificou-se para que eles não parassem de estudar. “Minha mãe sempre valorizou a educação. Eu falo que ela foi um Paulo Freire [pedagogo brasileiro reconhecido internacionalmente] na nossa vida”, diz. Quando terminou o ensino médio, sonhava com muitas profissões: médica, veterinária e até policial.

Eu sempre tive na cabeça que a mulher tinha que ter seu espaço. Eu achava chique mulher no tribunal, como advogada ou juíza, sempre quis ser uma mulher dessas, uma mulher porreta realmente, mas nunca tinha me passado pela cabeça que eu poderia fazer isso dentro do cooperativismo”, comemora.

Ana Paula virou uma dessas mulheres de fibra, capazes de mudar o mundo com as próprias mãos. E é com a ajuda delas que jovem e os colegas cooperados colhem a folha do jaborandi, usada na fabricação de remédios, e as sementes nativas, que são utilizadas em projetos de reflorestamento. Tudo isso, sem afetar a floresta, uma vez que o extrativismo usa as técnicas de manejo florestal para evitar a degradação do meio ambiente.

TRABALHO PESADO


A extração de riquezas naturais é um trabalho pesado, que exige muito esforço físico e comprometimento dos cooperados da COEX. Eles se dividem em grupos e passam semanas acampados, isolados na floresta, colhendo as folhas e sementes. Depois, carregam quilos desse material a pé, por meio da mata, até o transporte. Então, os produtos passam por secagem e são armazenados para a venda.

Hoje, somos a única cooperativa de extrativismo vegetal da região de Paraupebas, o que é uma grande responsabilidade. Quando você entende esse trabalho, vê a importância da cooperativa em garantir o tratamento de saúde de quem precisa do remédio, tendo o cuidado de manter a floresta em pé”, explica Ana Paula.

Ainda de acordo com ela, tudo na natureza tem seu ciclo e importância. “Nada está ali por acaso. Nós, seres humanos, somos o meio ambiente, estamos inseridos dentro dele, e quando se destrói a floresta, automaticamente estamos nos destruindo.”

A pandemia não afetou a produção e a renda dos cooperados. Apenas aqueles que eram do grupo de risco passaram algum tempo sem poder trabalhar e a COEX buscou doações para poder mantê-los em isolamento durante o período mais crítico da Covid-19.

Para 2021, Ana espera mais contratos e um retorno às rotinas de antes. “Espero que a gente possa voltar a abraçar, estar perto, aquele contato físico, participar dos eventos e feiras. Espero que em 2021 a gente se encontre, mais forte e mais unido”, conta a maranhense do riso fácil, saudosa dos abraços.



Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinsk e está publicada na Edição 32 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação



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