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Quando prever o futuro é uma ciência

Você não precisa mais confiar apenas na sua intuição ou em dados na hora de tomar decisões. E se eu lhe disser que existe um profissional especializado em prever tendências de futuro para o seu negócio? O nome dele é futurista, uma pessoa capaz de identificar com anos de antecedência quais serão os produtos, tecnologias e comportamentos que irão moldar as nossas vidas em uma ou duas décadas.

Investigar o futuro e trazê-lo para o tempo presente é principal desafio proposto por futuristas para que lideranças e profissionais sejam mais assertivos na tomada de decisão e na geração de impacto para os negócios e a sociedade.

Momentos de grande ruptura — como a pandemia de Covid-19 ou o atentado ao World Trade Center (11/09/2021) — são propulsores de movimentos futuristas, pois antecipam planos e nos colocam mais perto do que já estaria por vir. Esse, aliás, foi o tema central da palestra de encerramento da Semana InovaCoop, promovida pelo Sistema OCB, com o investigador de futuros, Thiago Mattos, professor na Singularity University, nos Estados Unidos, cofundador da Aerolito — laboratório de construção de futuros — e autor do livro “Vai Lá e Faz".

INVESTIGADOR DE FUTUROS

Em um mundo cada vez mais digitalizado e com um volume imenso de informações circulando, as relações pessoais, de trabalho e com o meio ambiente passam por transformações rápidas e geram novas necessidades que demandam novas soluções.

E não há apenas um caminho para alcançar as soluções. O especialista observa que diante de tantas possibilidades há uma pluralidade de futuros, que coexistem e podem ser desvendados de diversas formas e motivar diferentes iniciativas em sua direção. “Futuro no singular fica muito determinista, no plural dá mais ideia de liberdade e diversidade”, disse.

E para não perder as várias possibilidades do porvir, o investigador de futuros Thiago Mattos sugere conhecer quatro forças que têm dominado o mundo, são elas: a digitalização, a automação, a personalização e a distribuição. Todas relacionadas ao avanço da tecnologia e no seu potencial de facilitar a vida das pessoas e gerar oportunidades.

“A primeira dica é entender as quatro forças do digital. Tudo o que puder ser digitalizado, automatizado, personalizado e distribuído, será.  De tudo o que eu investigo, essas são as quatro forças dominantes da internet que qualquer modelo de negócio, qualquer liderança, qualquer profissional tem que conhecer e adequar seu business. Se não adequar, a onda vem e é importante estar atento a ela”, sugere Mattos.

CARROS INVISÍVEIS?

Esse exercício de se transportar para o futuro permite o contato com uma realidade impactada por inovações disruptivas, que tem levado alguns setores da economia a transformações antes inimagináveis. Todo esse movimento é impulsionado pelo desenvolvimento de novas tecnologias, o avanço da pesquisa científica e pela mudança na forma de consumo e nas interações sociais.

Um mundo cheio de robôs, carros invisíveis, comida que pode ser impressa, turismo no espaço, novos meios de pagamento, moda e bebida sendo produzida em casa e tantos outros setores que estão descentralizando os processos e tornando a produção cada vez mais on demand.

“As empresas estão percebendo que a produção pode ser feita na casa das pessoas (...). A lógica centralizada da produção industrial será questionada cada vez mais, dia a dia”, comentou o palestrante.

DO FUTURO PARA TRÁS

Aproveitar a relação entre passado, presente e futuro não é novo no mundo dos negócios, mas o sentido dessa relação é que tem mudado, trazendo o futuro para o início da linha do tempo. Segundo o palestrante, a inversão permite romper com estruturas arcaicas do presente que podem atrapalhar os processos de planejamento e de tomada de decisão.

“Precisamos liderar a partir de visões. Não façam planejamento estratégico. Planejamento estratégico da forma como a gente conhece extrapola o presente para o futuro. Faça uma gestão do futuro para o presente. A administração clássica nos ensina a planejar do presente para o futuro, ou seja, imaginando que o futuro vai ser uma versão um pouquinho diferente do presente, e esse é o grande perigo. É uma visão incremental de como será o futuro, mas ela não funciona mais, principalmente no mundo pós-pandemia”, explica Mattos.

O palestrante ressaltou ainda que a visão futurista vai além de pensar em tendências, mas envolve o processo de desaprender o que já não serve mais e reaprender uma nova forma de planejar e gerir os negócios. “Quanto mais o mundo muda e quanto mais se torna mais rápido, é importante que você crie visões, entenda como vai ser o futuro, enxergue o futuro, dê uns passos para trás e  entenda o que é necessário para que isso seja feito”, completa.

É possível criar futuros

Lala Deheinzelin, futurista desde 1995, também reforça que a prática de olhar para o futuro não consiste em pensar em tendências e em reagir de forma previsível aos atos do presente. Mas, sim, passa por estudar “as forças” que estão moldando os futuros e fazer as melhores escolhas em função delas, criando novos caminhos.

"Um dos principais futuristas, Peter Drucker, diz que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Na verdade, é a única maneira. E o futurista Buckminster Fuller diz que a melhor maneira de lutar contra um paradigma não é atacando, mas criando um novo e tornando o antigo obsoleto. Então, as coisas que são necessárias mudar, a gente não reage lutando contra elas, mas a gente cria novas”, disse a futurista.

Inspirada nessas premissas, Lala iniciou, em 2008, o movimento chamado “Crie Futuros”, que visa dar elementos e subsídios para pensar futuros desejáveis e possíveis. Por meio de oficinas de criação de futuros, o movimento já alcançou vários países e recebeu menção e prêmios em importantes eventos internacionais.

O método de trabalho utilizado por Lala é chamado fluxonomia, uma combinação de futuro e novas economias, com o objetivo de capacitar lideranças no processo de enxergar e criar coletivamente o futuro.

“Nesse momento de transição não é possível solucionar através de inovação incremental, que são ajustes que dão um jeitinho. Uma transição grande como a nossa exige solução disruptiva, que é realmente criar novas formas. Velhas maneiras de fazer não solucionarão novos problemas. Isso Einstein já dizia”, provocou a futurista.

Lala reforça que é impossível prever o futuro, por isso é necessário criá-lo, verificando o que as partes e o coletivo necessitam e como atender a essas necessidades. Ela ressalta ainda que é importante que o gestor saiba se desafiar e entender que fazer mais do mesmo não vai levar a outro lugar. 

“Os gestores precisam estar preparados e aprender a ler essas forças que estão moldando o futuro e que não são tendências, porque às vezes elas vão até contra a tendência. Por exemplo, o mundo está construído na base da competição, mas isso é uma característica dos séculos 19, 20, que não faz sentido no século 21. Então, pensar em colaboração é contra a tendência, mas é o que é necessário. Então, é preciso trabalhar, antes de mais nada, a mudança de mentalidade, a consciência, a cultura”, declarou.

FORMANDO LÍDERES DE VISÃO

Traçar uma jornada de visão, baseada em conceitos “fora da caixa” e de padrões consagrados de planejamento, exige conhecimento e constante atualização sobre inovações do mercado. Trazer o futuro para o presente demanda mudança de mentalidade e tem desafiado o mundo acadêmico a moldar a formação de líderes e gestores aos conceitos futuristas e de inovação.

Uma das escolas mais bem avaliadas no mundo dos negócios, a Fundação Instituto de Administração - FIA Business School criou, em 1980, o Programa de Estudos do Futuro, chamado Profuturo. Nos cursos ofertados pelo programa, a perspectiva futurista tangencia as discussões e os projetos em diversas disciplinas, com o objetivo de estimular entidades públicas e privadas a desenvolver estratégias de prospecção de futuro.

Segundo o coordenador de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do programa, Daniel Estima, a introdução do futuro na literatura acadêmica remonta à década de 1960, no contexto da Guerra Fria, com estudos americanos e viés militar. 

Ao longo do tempo, as universidades avançaram com estudos setoriais, de maior impacto, e nos últimos 20 anos cresceu o interesse das empresas em usar métodos para aplicar estudos do futuro em projetos de inovação e de impactos, principalmente de tecnologias que ainda não existem.

“As decisões estratégicas têm que estar muito mais próximas do dia a dia da empresa, dos líderes, das diretorias. E o pensamento de futuro também tem que ser mais constante, é preciso criar uma cultura de pensar o futuro para alicerçar os passos da empresa. Virá alguma revolução, alguma solução ou novidade tecnológica que pode tirar valor da empresa e te deixar no meio do caminho”, disse Daniel Estima, que também atua em projetos de consultoria para organizações públicas e privadas.

PROSPECÇÃO CORPORATIVA

A pandemia mostrou que não dá para ficar na zona de conforto e elevou os estudos do futuro a outro patamar. “Entender o futuro é importante. Inclusive, a Unesco elegeu a questão do futuro como uma das competências para o século 21 que deve ser discutida na escola desde cedo. Fala-se muito de inteligência emocional, programação, ferramentas que devem ser dominadas pelos profissionais, mas também essa capacidade de olhar para o futuro já é importante e será cada vez mais”, reforça o professor Daniel Estima.

Contudo, o especialista alerta para os modismos e para o risco em tratar cenários e o futuro de maneira superficial, sem de fato promover impacto na tomada de decisão e na geração de ideias e ações inovadoras na empresa.

“Essa conexão corporate foresight, que é a prospecção corporativa, está olhando as ações estratégicas dentro da corporação, para fomentar essa cultura, pensamento conectado direto nas avaliações e decisões da empresa. Acho que deveria ser algo para ficar. É criar visões de futuro e conduzir a empresa para esse futuro desejável, sabendo que não é um caminho linear, tem pedras no caminho para desviar”, explica.

A futurista Lala, que também atua com formação de lideranças, reitera que é imprescindível que as empresas trabalhem com estudos de futuro, principalmente aqueles que extrapolam a ideia de projeções e cenários, mas que promovem a criação do que é necessário para chegar ao futuro desejável da empresa e também da sociedade como um todo. “Nos círculos futuristas, falamos em analfabetismo em futuro. Não é mais possível ser analfabeto em futuro”, exorta Lala.

COOPERATIVISMO É O FUTURO

Na perspectiva da futurista Lala, considerando o passado e as dinâmicas das outras transições que a humanidade passou, os próximos anos serão moldados pela colaboração. A especialista destaca que a humanidade está vivendo a maior transição da história e, principalmente depois da revolução digital, a sociedade tem a possibilidade de operar de forma desmaterializada, por meio de uma rede não material, que está fora do tempo e do espaço, em uma dinâmica exponencial. 

“A principal força moldando o futuro nesse momento é a necessidade de convergir, de fazer junto, colaborar. Quando olhamos o futuro desejável, o que é bom para todo mundo é o que traz um equilíbrio e atende a indivíduos, empresas e a países, atende ao todo da sociedade, ao planeta. Aí sabemos o que não é uma moda e o que não é uma tendência”, comenta Lala.

A futurista lembra que, depois da crise de 2008, surgiram gigantes da tecnologia que foram capazes de convergir dados, mercados e, que após esta crise de 2020, veremos convergir os gigantes da colaboração. Nesse contexto, Lala aposta no potencial do cooperativismo para a criação de futuros desejáveis e soluções inovadoras que possam de fato fazer frente aos problemas impostos pela atualidade.

“O mundo tem desafios, velocidade, informação, complexidade exponencial. Mas nós, o tempo e o planeta não somos exponenciais, somos lineares, então, fica difícil uma capacidade linear responder a desafios exponenciais. A solução está em colaboração. O cooperativismo é o futuro, porque fazer juntos é a única maneira de fazer frente e dar responsa ao mundo exponencial”, declarou Lala.

O professor Daniel Estima de Carvalho  também vê no cooperativismo a oportunidade de aprendizagem de algo estratégico, por meio do intercâmbio de ideias entre os cooperados, colaboradores e os tomadores de decisão. O especialista chama a atenção para a capacidade que a rede formada pela colaboração tem para transformar ameaças em oportunidades.

“Os cooperados são partes importantíssimas para fornecer informação, conhecimento e também oportunidades. Usar essa rede de cooperados para troca de informações disparadas no mercado e transformar isso num sistema de mapeamento e de análise de riscos e oportunidades e, nesse sentido, deixar as coisas mais mapeadas e ágeis. Todo mundo só tem a ganhar nessa rede”, destaca o professor.

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Dicas para construir um futuro melhor para sua cooperativa

Pensar no futuro sem cair na trama da ansiedade e sem perder conexão com o presente ou apostar em tendências vazias requer conhecimento, mas também disciplina e disposição para lidar com o incerto de forma otimista e propositiva. Para ajudar a sua cooperativa a caminhar nesse sentido, aqui vão algumas dicas:

1 - Adote novos hábitos no dia a dia, tanto na vida pessoal, quanto profissional. A principal coisa é conseguir sair do medo, o medo é a única coisa que deveríamos temer, porque ele nos paralisa. Como sair do medo? Primeiro, diminuindo, ou até quase eliminando, o acesso à informação que só nos coloca no modo reativo. Pare de se alimentar de problema e se alimente de solução. O mundo está enfrentando grandes transformações, sim, mas vivemos num momento de maior abundância da história da humanidade. Nunca vimos na história tantas ferramentas, tanto recurso, tanta inteligência, mas não sabemos o que fazer com isso, porque pensamos com a cabeça do passado. Nós temos tudo o necessário para construir um mundo desejável e possível.

2 - Treine o seu olhar  para reconhecer a imensidão de soluções inovadoras que já estão sendo desenvolvidas em diferentes setores. Nutra-se de informações sobre possibilidades e faça as perguntas principais dos estudos de futuro: se tudo fosse possível, como eu gostaria que as coisas fossem? Essas coisas são só boas pra mim ou para todo mundo? E depois, perguntar, por que não? O que impede a gente de colocar isso em prática?

3 -  Dedique-se a tudo que tem relação com a cooperação, com o fazer junto, e, por fim, prestar atenção nas novas economias: Criativa, Compartilhada, Colaborativa e Multimoedas.

4 - Outro fator de sucesso de um time é desenvolver na organização um ambiente de respeito, empatia e segurança psicológica, que não gere reações de medo para expressar novas ideias ou compartilhar dúvidas, erros e preocupações. E, claro, ter um propósito claro delineando o caminho até o futuro, ou melhor, do futuro até o presente, também é essencial para que um plano seja bem-sucedido e deixe um legado. E para fazer tudo isso, só temos o hoje.

Afinal, como disse o futurista americano, Thomas Frey, no livro Communicating with the future, “o jeito que você imagina o futuro muda suas ações no tempo presente. Portanto, não é apenas o presente que constrói o futuro, o futuro também constrói o presente”. 

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APRENDIZAGENS

Para quem deseja se aprofundar sobre o assunto, vale a pena conhecer o curso “Pesquisador de Tendências”, disponível gratuitamente no InovaCoop.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

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